sexta-feira, 12 de março de 2010

Pereba...

Pereba era um rapaz legal. Do tipo agressivo-passivo que todos adoram ter por perto. Sempre prestativo, procurava ajudar os outros. Sua simpatia em relação a isto era pública e nototória. Pereba buscava ajudar até mesmo as pessoas que procuravam informações em um Shopping. Mesmo que não soubesse a língua, por vezes eram estrangeiros, ele buscava pela familiar linguagem de sinais disformes e algo que se aproximasse da pronúncia do idioma.


Mas, como todas as pessoas, Pereba não era perfeito. Tinha seus pequenos pecadilhos e suas pequenas, na verdade imensas para ele, falhas. Conservava este apelido dado pelos seus amigos de infância e o levava adianta. Não sabia jogar Handebol, esporte predileto de seu colégio, embora fosse muito bom em Xadrez. Mesmo assim, até sua idade adulta, ainda carregava tal alcunha.

Aconteceu algo com Pereba, certo dia. Ele passeava pela rua e quando ia tirar uma informação de uma pessoa, sofreu um infarto. Quase fulminante, senão pela sua constituição física privilegiada e muitos hambúrgueres da esquina de sua casa. Ficou alguns dias no hospital. Recebia poucas visitas, ainda menos ligações. Recebeu dos médicos um encaminhamento para terapia.

Seis meses após isto, desistiu da terapia. Perguntava-se sempre se o seu psicanalista dormia enquanto ele falava. Sabia que na hora da saída, perto do horário do fim da sessão, o mesmo sempre estava alerta. Ponderava o terapeuta com alguns "Ahan", "Continue" e "Como se sente em relação a isto?". Decidiu abandonar tudo isto. Iria procurar algo.

Quando um mendigo na rua pediu-lhe uma esmola, ele disse não. Ficou parado alguns minutos ali, buscando uma resposta. Não sabia porque tinha negado isto, mas sabia que era o sinal de algo novo. Vira que a terapia tinha dado algo novo a ele, mas não sabia exatamente como deveria caminhar.

Passou a responder as pessoas com a educação habitual, mas não mais se sobrecarregava no trabalho fazendo as tarefas dos outros. O seu amigo de infância, Joselino, até chegou a ser demitido por causa disso. Ele simplesmente deixava com que Pereba fizesse todo o seu trabalho. Ia ser promovido. Ao invés disto, acabou por acontecer algo engraçado: Pereba foi promovido em seu lugar e...

-"Ei... Narrador?"

-"Anh... Sim?"

-"Pereba, não... Me chama de Valdecir. É o meu nome."

-"Anh... Sim."

-"E faz o favor: escreve um final feliz, viu?"

-"Anh... Sim."

Mesmo sem muitas palavras pela interferência de Valdecir, procurei continuar observando a sua vida. Valdecir não sabia que o meu poder não era decidir qual seria o rumo de sua vida, mas somente descrever como ela seria. Como uma câmera que filmava o que acontecia, a este humilde Narrador cabia apenas uma coisa: torcer pela sua felicidade.

Entretanto, pessoalmente acho que Valdecir vai se sair muitíssimo bem. Ele estava se libertando de suas amarras. Como os elefantes que são amarrados quando pequenos e mais tarde não conseguem se libertar de suas próprias amarras, Valdecir estava decidido a quebrar este círculo.

Esta dicotomia de Senhor e Escravo que ele mantia em si, aos poucos ia desaparecendo. A promoção chegou em um ótimo momento de sua vida e até encontrou uma amiga da escola, uma das que ninguém dava bola. Ele tinha se tornado uma mulher interessante e Valdecir a tinha encontrado na hora do almoço, em um novo restaurante do Centro da Cidade.

Conversaram muito. Sobre muitas coisas. Trocaram telefones. Apaixonaram-se. Casaram. Tiveram dois filhos: Adalberto e Rosana, em homenagem a avó de Helenice. Viveram juntos. Não felizes para sempre, porque brigavam por vezes. Mas não deixavam que estas pequenas brigas atrapalhassem seu relacionamento. Mesmo com todos os problemas, com a falta de dinheiro por comprar algo melhor para os seus filhos, eles tinham uma certeza: tudo iria dar certo.

E este narrador fica feliz. Feliz em ver que mesmo só podendo observar de longe e torcer, ver que seus pequenos filhos podem levar sua vida adiante, mostrando sempre algo de bom, algo de ruim... Ou seja, apenas sendo seres humanos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A uma sem nome...

Vejo você, linda. Maravilhosamente linda. Tento dividi-la em partes para tentar entendê-la melhor. Mesmo com tanta coisa para ser vista, tento reduzir a pequenas poucas coisas imensamente significativas e de maneira cativante, quase, disse quase, apaixonante.

Vejo os seus olhos, não duas pérolas negras que meramente refletem luzes. Seus olhos são como dois buracos negros, atraindo minha atenção em direção ao seu olhar. Nas pequenas explosões, por vezes solares de suas pupilas produtoras de prazer, percebo-me hipnotizado e entregue a tamanha sensação. Implodo-me, pouco a pouco, dentro de mim, numa onda sem fim de sentimentos. Tento, através de atos, reagir a isto... De alguma maneira poder cessar... Cessar, não... Aumentar isto.

Seus cabelos, parecendo rajas de petróleo da riqueza que compõe o visual mostra-me algo interessante. Não é virtual, pois não está em nenhuma das minhas páginas... Mas é uma realidade que brinca de esconder teu rosto por entre eles. Balançam de um lado para o outro suas pequenas madeixas, parecendo uma brisa do mar a balançar o coqueiro, seduzindo-o. Sinto-me absorvido por isto também.

Sua pele clara é como um espelho, algo que ilumina o meu dia. Liga-me e acende-me. Seu cheiro, inebriante e incômodo de tanto prazer que provoca, mistura-se com uma seda que se desdobra ao toque e que se entorta, contorce com a minha aproximação. Por vezes, só isto me faria feliz e meu cérebro sabe disto... E ele me prega peças. Distraído pela rua, quantas e quantas vezes ele fez questão de me mostrar que você não está comigo?

Ao longo do dia, sinto o seu cheiro. Como se fosse uma droga da qual eu não consigo me livrar, como o efeito do lsd que volta anos depois. Mas eu não uso drogas... E você, longe disto, é um acontecimento fascinante em minha vida. Nem sei se os cientistas conseguiriam mensurar o que você faz comigo, com meu cérebro, com minhas palavras... Nem tenho palavras, na verdade. Elas são inúteis. Elocubrações, pensamentos, perturbações, desânimos, rotinas, descaminhos... Tudo cai por terra ao ver sua boca.

Ah... A boca. Uma das coisas mais lindas que eu poderia presenciar em toda a minha vida. Uma boca aveludada, macia ao doce encostar dos meus lábios. Ela recebe os meus com um sorriso contido, tímido, levemente puxando o canto da boca para a direita. Sinto, então, os lábios meramente se tocando. Meramente eles se locupletam, buscando se encaixarem. Pouco a pouco, sinto seus os lábios superiores cedendo um pouco ao avanço dos meus, enquanto os seus inferiores avançam, dançando e prosseguindo. Enlouquecendo-me, aos poucos, como um conta-gotas, buscando pingar dosadamente em um oceano ansioso de desejo por você.

Hum... Sinto, após isto, o gosto de sua saliva. Se o teu cheiro me deixa inebriado, a tua saliva fica comigo por dias. Enlouquecedoramente. Posso comer, escovar os dentes, beber, chupar uma bala... Nada. Nada faz com que eu esqueça a sensação do seu gosto dentro do meu gosto. E que gosto. Que coisa sedutora, linda... Parece que foram anos, mas este... Ah... Este foi somente o primeiro beijo. A primeira parte, na verdade, do primeiro beijo. Passado, presente futuro misturam-se e perdem-se... O próprio tempo se confude e pára para olhar o que acontece. Parece que esta mesma entidade, parte da eternidade nos faz um favor: estende um tapete onde o tempo pára. Pára o relógio, param as pessoas... E vivemos só nós dois. Só na nossa pequena impossibilidade.

Minutos, horas parecem dilatar-se em um pequeno afago, um pequeno afeto... Um riso solto, uma piada sem graça. Um toque. Que toque. Tantas coisas ditas, tantas palavras sussurradas, tantos risos, graças, gemidos, carinhos, confortos... Ah... E também o sabor do não-dito. Deliciosamente não-dito, suplicado, imprensado, tentando ser impedido para que não se deixe escapar nada... Para que este nada não gere algo. Não se perceba... Ou para que não se deixe perceber quase nada.

Não consigo entender... Nem ao menos quero. Mesmo dividindo nas mais ínfimas partes, não consigo distinguir o que você é por inteira. Não sei o que quero. Sei o que quero. Sei o quanto quero, o quanto anseio, o quanto desejo, o quanto espero, o quanto... O quanto não é tempo demais para esperar algo tão precioso, tão raro, tão... sublime. E infernal ao mesmo tempo. Algo puro, algo sujo, algo... Algo tão especialmente e deliciosamente... Mulher. Talvez... Minha?

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia da mulher

A mulher é de difícil definição. Entendê-la exigiria uma série de aptidões às quais nós, homens, somos completamente falhos. Busco, então, nestas poucas palavras, fazer a elas um pequeno elogio dentre a imensidão de coisas que nos proporcionam.


Nascemos delas. Elas ficam meses carregando algo que não sabem muito bem o que vai ser, como vai tratá-las e se vai tratá-las. Elas vivem nesta miríade de possibilidades, nesta mistura de sentimento tão intensos e tão dicotômicos que poderíamos chamá-las de loucas. Mas loucos somos nós que não entendemos a fecilidade delas em ser mães.

Crescemos e nos apaixonamos por elas. Elas passam a se tornar partes de nossas vidas afetivas. Amando-as e odiando-as tantas vezes que seriam impossível mensurar. Devemos, então, parar de tentar entender suas atitudes. Homens agem por raciocínio; mulheres por intuição. Homens são calculadoras enquanto elas furacão.

Furacão de sentimentos, leves como o ar ou densos como a terra. Podem ser quentes ou frias, mas só serão frias em mãos inabilidosas, nas quais busquem repetir doses, esquemas antigos... Cada mulher é única na sua infinitude de possibilidades. Elas buscam sempre algo idealizado, sonhador... E nós buscamos o óbvio. Sempre perderemos feio para elas.

Além disto, elas normalmente terminam os relacionamentos. São muito mais habilidosas socialmente que os homens e têm uma profundidade de análise que deixariam pasmos os prêmios nobel mais famosos. Não por seus cálculos, mas por simplesmente saberem qual o caminho a ser tomado. Não sem sombra de dúvidas... Mas, COM apesar das dúvidas, elas prosseguem.

Elas são flores, prefiro que sejam rosas. Têm variadas cores e perfumes; sempre ficando melhor em adornos pomposos, com várias folhagens... Ou simplesmente sem folhagem alguma, somente elas, nuas. Ah... E os adoráveis espinhos que elas têm? Devem ser ultrapassados um a um; não cortando, simplesmente adorando cada pequena idiossincrasia sua, cada pequena imperfeição.

Homens mensuram e apreciam a perfeição das formas. Estão errados. As coisas na vida e principalmente as mulheres, são feitas de suas pequenas e maravilhosas imperfeições. Uma espinha, um olho menor do que o outro, um nariz maior, um gesto expansivo quase como uma italiana exagerada, uns quilinhos a mais... Ah... E as celulites. O que seriam das mulheres sem elas?

Li, certa feita, que as celulites são a maneira da mulher dizer que é gostosa em braile. Não precisa... A mulher sempre será gostosa porque seu gosto depende do que ela tem eu seu coração. Sempre terá seu cheiro porque toda rosa tem sua fragância.

Nós deveríamos agradecer às mulheres por nos terem tirado de nosso beco evolutivo. Se não fossem por ela, comeríamos pizza fria e tomaríamos cerveja quente. Se é que algo desse gênero fosse inventado por nós, homens.

Agradeço a Deus por existirem as mulheres. Sempre. De todos os tipos: mães, filhas, irmãs, tias, tias-avós, avós, primas, amigas, amantes, ex-mulheres, etc. Agradeço por serem médicas de nossas almas, pessoas que nos curam e nos fazem doer; mas sempre com uma ternura inacreditável. A vocês, mulheres, um excelente único dia das mulheres que, na verdade, são 365... Ou 6, em ano bissexto. Afinal, temos a nossa idade todos os dias, inclusive um a mais quando nós fazemos. O dia da mulher é o dia do aniversário somente, um a mais na conta, para ser o ano todo ;)

domingo, 7 de março de 2010

Contexto Histórico

Guilhermino era um cidadão pacato. Formado em Arquivologia, tinha seus quase 30 anos. Cultivava sua baixa auto-estima por si com uma dose peculiar de gastrite nervosa. Esta era causada pela sua extrema incapacidade para realizar qualquer tipo de relacionamento interpessoal. Poderíamos até mesmo dizer que ele teria nascido de uma chocadeira, pela sua habitual maneira de não exercer sua função socializante. Ele achava melhor ficar com pastas, arquivos, papéis e ácaros.


Trabalhava em uma empresa privada, terceirizada por um contrato super-faturado junto ao governo local para digitar e digitalizar documentos históricos. Poderia ser feito por qualquer um que tivesse segundo grau, mas Guilhermino achava que seria uma grande oportunidade profissional. Trazia um sonho consigo: um parente de seu tataravô participara da Inconfidência Mineira. E, naquela firma, seria a sua meca, a sua seara para um empreendimento pessoal ousado: procurar o parente para poder ter algum tipo de colóquio com uma pessoa do sexo oposto ao dele, não dos ácaros.

Mas, neste dia fatídico, surgiriam duas surpresas inesperadas. A primeira delas, a de que o seu companheiro relapso, chamado Peixoto, conseguia uma promoção. A promoção tanto desejada por Guilhermino. Mesmo chegando atrasado no escritório, saindo cedo, nunca cumprindo suas tarefas, ele conseguiu a promoção de chefiar os arquivos mineiros. Corriam boatos (e até estes Guilhermino soube) de que Peixoto teria um relacionamento extra-conjugal com a mulher de seu chefe. Como Peixoto a fazia feliz, parece que houve um consentimento tácito de que o chefe também deveria deixá-lo feliz.

Guilhermino ficou pasmo com tal situação. Sentiu, pela primeira vez em toda a sua vida, raiva de alguém. Nem no colégio quando furtavam seu lanche, nem as chacotas de seus amigos por usar um óculos que mais parecia uma lente de aumento, nem as apostas das meninas bonitas para ver qual o ridicularizava mais e melhor (tinham até uma ficha para anotarem)... Nada destas situações o deixava chateado... Mas isto...

Ele se imaginou com uma faixa vermelha na cabeça, entrando no escritório, como se fosse Rambo. Puxava uma arma e metralhava todos. Sentiu-se imediatamente culpado após esta idéia. Pensou em falar com seu chefe para que pudesse ser promovido, ao menos transferido para a parte mineira. Se imaginou elegante, com um terno bonito, falando empolado para que pudesse fazer uma comoção no seu chefe.

Mas... Não era o seu estilo. Era mais fácil que ele se debulhasse em lágrimas em frente ao chefe, implorando para que pudesse participar daquilo... Imaginou-se até negociando com o chefe para poder pagar isso com ele fazendo a felicidade da mulher dele.

Nada adiantaria, seria tudo em vão. Conhecia seu chefe, um sujeitinho asqueroso e detestável. Resolveu, então, tomar uma atitude honrado e corajosa: pedir demissão. Iria para o Nordeste, trabalhar em um quiosque e viraria um surfista internacional.

Sabia disto, ou de algo parecido. Decidiu se levantar e ir em direção da sala do chefe. Engoliu a seco, por sua mão escorria uma leve sudorese. Começou a caminhar em direção a sala do chefe. Ele bateu à porta, aguardou e entrou. Seu chefe estava lendo o jornal e fez com a mão para que ele entrasse. Sentou-se na cadeira.

Silêncio.

Guilhermino tinha aberto a boca para começar a falar, quando toca o telefone. Seu chefe atende.

-"Sim... Sim... Mesmo? Que triste." - desliga o telefone - "Olha, o Peixoto foi comemorar a sua promoção almoçando sardinha. Morreu entalado com a espinha na garganta... Bom, nunca gostei dele. Ele era um sujeitinho asqueroso e detestável. Ah... Pode ficar com a promoção dele, viu?"

segunda-feira, 1 de março de 2010

Palavras

Faustano era uma espécie de duende laranja. Não o do homem-aranha, mas um duendezinho bem pequeno e laranja. Por vezes, os da sua espécie apresentavam pêlos demais nas pernas e quase nada na parte de cima de seus pequenos corpos. Para imaginarem o quão pequenos são, seriam menores do que uma unha de um recém-nascido.

Todos estes duendes, os esferotecmados, têm uma espécie de comportamento obsessivo-compulsivo. Alguns buscaram a solução em psicotrópicos, outros em anos de análises freudianas... Teve até o caso de alguns fazerem terapia cognitivo comportamental ou apelarem para o isolamente de sua espécie. O caso é que nenhum deles, em tempo algum, conseguem se livrar de seus tocs. Por isto, eles tendem a se separar e somente se juntam na reprodução. Procuram reproduzir somente com sua própria espécie, para que esta espécie de maldição não se espalhe pelos outros duendes.

Faustano, nosso duendezinho verde, gostava de colecionar palavras. Não palavras comuns, não palavras que se dizem no cotidiano... Não. Ao invés de cotidiano, preferia corriqueiramente. Conversa? Que nada... Preferia um interminável e infatigável colóquio. Gerava até nele uma certa excitação tais palavras... Mas não era sua época de reproduzir... Muito faltava. Procurava, então, distrair a cabeça. Resolvera anotar todas estas palavras em seu livro dourado, geometricamente idêntico, dois lados a dois lados. Anotava tudo com uma caneta tinteira azul, recolhida de uma seiva de árvore rara com uma pitada de pó da imaginação.

Certa feita, quando vagava pelos jardins da casa de uma humana, vagueava. Ela, em particular, além de adorar boa literatura, como Machado de Assis, apreciava também dicionários e filósofos. Literatura estrangeira também. Vez por outra ela via filmes, mas o que ele gostava mesmo era de folhear os livros enquanto ela ficava distraída. Procurava suas palavras e delas se alimentava como se fosse uma geléia real. Procurava cada palavra difícil para poder impressionar e se impulsionar em sua busca ávida. Era tamanho o seu desejo, que pouco notava que poderia estar sendo observado.

Foi quando ao folhear seu livro precioso, que o derrubou. Atônito, desceu dos livros e foi quando, ao ver seu livro, viu um lindo pezinho verde. Tinha sua perninhas torneadas, usava uma sainha de pétalas de flor e tinha os cabelos e olhos negros. Era linda. Ficou tão desulmbrado que deixou cair seu caderno e ela o entregou. Ele balbuciou algo como "Obrrrrigado" e ela sorriu, lentamente, inclinando a cabeça para frente e fechando sua boca, timidamente.

Conversaram. Por horas. Muitas e muitas horas. Falaram sobre suas famílias. Suas raças. A raça de Beghônia, era uma raça de fadinhas humanitárias. Elas saíam para ajudar os humanos ou, na maioria das vezes, bichinhos a se protegerem dos humanos. E humanos a se protegerem dos humanos. Ela pouco podia dedicar seu tempo a qualquer outra causa, era comprometida com este fim. E isto a consumia. Mas mesmo assim, mesmo tendo que se atrelar a seu compromisso, se encantara com aquela pequena figura laranja. Pequeno mesmo, pois ainda era um pouco menor do que ela. Enfim, conversaram tanto que até combinaram de se encontrar em um outro lugar, público, porém mais reservado.

Foram ao Távola da Primavera, um belo restaurante localizado em uma copa de árvore. Beberam seu suco preferido (que era uma novidade para Beghônia, que o descobrira na hora). E ela o ensinara a ter um prato diferente. Dividiram a conta, pois este é um conto de fadas moderno. Nada mais justo e menos machista. Ou não... Mas ela fazia questão disto. Faustano até tentara argumentar uma cavalheirismo da idade medieval, um meio de tentar conquistar mais a moça, mas ela foi tão incisiva que por medo de perder uma próxima oportuniade de tê-la ao seu lado por pelo menos mais um segundo que fosse, decidiu repartir a conta.

Foram passear de mãos dadas no jardim. Seus olhares se cruzaram e houve um beijo. Um lindo e doce beijo onde suas línguas se tocaram timidamente no ínicio e os lábios, que procuravam se encaixar, vinham e iam de uma maneira suave e molhada. Um pouco quente, também. Seus corpos se tocaram e ocorreu a maior profusão de luzer e cores que se possam imaginar. Fogos cruzavam os céus, sons tocavam os amantes a quilômetros de distância. A energia destas duas espécies de seres nunca antes haviam se cruzado... Era uma primeira vez. Nunca ninguém imaginaria o que poderia acontecer, mas mesmo contra todos os ímpetos de uma aparente tempestade, procuraram seguir viagem neste barco de amantes ao qual a vida, naquele exato minuto, proporcionava a eles.

Antes, porém, Beghônia também confessou que gostava de palavras difíceis. Faustano ficou ainda mais em delírio e profusava palavras complexas e sem sentidos... Balbuciava coisas que nem poderiam ser escritas em língua nenhuma... Pela primeira vez, Faustano falava a língua do amor. Pela primeira vez, sentira o gosto de poder dizer qualquer coisa, sorrir, tocar ou mesmo suspirar... E perceber que poderia ser entendido... Aprendera a apreciar todos os jeitos, pequenos trejeitos e gestos... E a aprender com a diferenã de invólucro e conteúdo, do sumo, do doce sumo do amor.
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