sexta-feira, 16 de julho de 2010

Ariadne

Ariadne estava confusa. Sentia-se como uma criança que vai a loja, escolhe o brinquedo meses antes de seu aniversário e, quando retorna até lá, na ansiedade de que ele esteja... Descobre que ele está lá. Daí, não é este só o problema: é o medo de levar aquele brinquedo tão sonhado para casa e ele não corresponder a tudo aquilo que ela imaginou. Só que ela não estava escolhendo um brinquedo.


Ela estava escolhendo um relacionamento. Na verdade, estava escolhendo ter ou não um relacionamento com um homem que parecia ser tudo o que ela sempre pediu, como a menina que vai a loja. Ele, porém, quando chegou, assustou-a. Primeiro, ela pensou que não era merecedora daquele amor. Depois, achou que não poderia fazê-lo feliz. A seguir, resolveu terminar com ele pelo fato de que preferia evitar sofrer no futuro.

Ariadne pensou assim: melhor agora, do que mais tarde. Resignou-se, com o fato de que não preferia arriscar. Lembrou-se da música “O medo de amar é o medo de ser livre” e lembrou que nunca a tinha escutado. Naquele momento, o que ela mais desejava é ter sido mais “Fé cega, Faca amolada” para que pudesse ter escolhido por ele. Entregou-se a sua característica de não arriscar.

Em um segundo momento, pensou: “Como assim eu não arrisco?”. Lembrou por tudo o que tinha passado, relacionamentos, escolhas profissionais difíceis e, acima de tudo, escolhas familiares. Ela, em tudo, tinha conseguido mais do que medianamente ultrapassar vários obstáculos. Como uma mulher como ela poderia ser tão vacilante no amor? Sofria muito com isto. Queria ser feliz, mas tinha medo de dar o primeiro passo em rumo a liberdade.

Lembrou-se da tatuagem de borboleta azul na nuca, a qual nunca realizou. A seguir, das aulas de surfe que nunca tomou. Percebia, então, um vácuo na sua vida em aproximadamente quatro anos. Não é que ela fosse acostumada a ser infeliz, tinha se submetido a uma dose diária de infelicidade na qual o seu amor tinha lhe aberto os olhos. Isto dói... Lembrou-se do conto da caverna, de Platão. Lembrou-se de como era difícil sair da caverna; sabia que, ao sair daquela onde se encontrava, poderia ser feliz.

Parou. Iria racionalmente pensar na situação. Era algo novo, tudo bem; conquanto, o que ela estava vivendo era bem pior. Pensou que poderia levar adiante e projetou no futuro, daqui a uns cinco anos. Lembraria ainda dele como a pessoa mais especial de sua vida, tendo se tornado uma pessoa um pouco mais amarga por não ter optado por ele. Poderia relevar isto? Avançou mais cinco anos... Com quem ela envelheceria? Como ela envelheceria sem ser amada daquele jeito?

A projeção parou só em dez anos. Ela tinha trinta. Qual seria a escolha do seu coração? Ah... Isto ela já sabia de cor e salteado, perdoando o pleonasmo. Por que, então, era claudicante ao dar o próximo passo, em direção a sua liberdade? Só se... Se estivesse acostumada a ficar infeliz. Era isto... Foi a sua resposta. Sorriu, até para ela: poderia ter decidido agora. Mas não decidiu.

Se era a melhor escolha, por que estava doendo nele e nela? Nele... Como será que ele estava? O que ele estaria fazendo? Será que ainda a amava? Será que poderia perdoá-la por... Perdoá-la? – “Por fazê-lo sofrer.” – disse ela, a sua própria consciência. Ela lembrou de uma frase dele, muito bonita e tocante: “Perdoaremos tudo um do outro, desde que estejamos juntos. Afinal, só perdoamos aqueles que nos arriscamos para termos.”

Agora... Depois de lágrimas, lenços cheios de material nasal jogados fora, dias passados usando o mesmo pijama, a tormenta que lhe afligia iria passar? Não iria. Ela ainda não tinha se decidido: nem pela felicidade nem pela sua continuação daquele estado. “Ele poderia liga”, pensou ela, esperançosa. Olhou para o celular. Não havia nenhuma ligação. Percebeu que olhava várias vezes o celular, a página de relacionamentos, o correio eletrônico... Qualquer sinal de vida que ele pudesse dar.

Desabou, mais uma vez, na poltrona da sala. Tudo lembrava ele: os seriados, os comerciais, as músicas, os gostos... Percebeu que, agora, a comida não tinha sabor, o perfume não tinha cheiro, as cores do dia pareciam mais cinzas, tudo... Tudo estava desbotando. E ela também estava desbotando. Ela falou para o seu pintor, com sua aquarela, parar de pintá-la com seus lindos sentimentos. O que ela faria agora?

Ou, para verem e ouvirem: http://www.youtube.com/watch?v=KeAKxiPUBLE

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