sexta-feira, 9 de julho de 2010

Carmelo

Carmelo recebeu a notícia inesperada agora a tarde, faz pouco tempo. Ele recebeu uma ligação da pessoa especial da sua vida terminando o seu relacionamento com ele. Sempre cordial e aprazível, buscou do âmago do seu ser uma maturidade inacreditável. Orientou-a se era o melhor a fazer ou não, conversou durante algum tempo. Por fim, deu-se por vencido: ela realmente não acreditava tanto no amor deles com a finalidade de pagar para ver.

Desnorteado e chorando, começou a caminhar pelo seu bairro. Em um momento em que pediu a Deus uma iluminação, ele encontrou um templo. Visualizou sua cúpula dourada e sua cor branca, com um jardim na parte da frente. Teve um pequeno soluço e procurou limpar as suas lágrimas. Chegando lá dentro, tomou um copo de água, para se acalmar. Sentou-se em um banco e começou a rezar. Notou algumas pessoas cruzando o corredor, mas não se deu conta de nenhuma delas.

Em dado momento, começou a lacrimar de novo. Olhou para o lado e notou uma mulher, mais alta do que ele e com um rosto fino. Seus cabelos eram longos e encaracolados, lembrando os de um anjo. Sentiu uma paz de espírito ao vê-la. Ela, vendo que ele chorava, apenas sorriu. Ele pediu desculpas. Ela sorriu novamente e lhe estendeu a mão, fazendo um afago. Trocaram algumas palavras e, após isto, foram para a cantina para melhor conversarem.

Conversaram sobre rompimentos, paixões profissionais, interesses... Carmelo se sentiu até bem com aquela conversa. Ela era do tipo espevitada, que consegue animar até uma tarde de velório. Ela o orientou, conversou, acalmou seu coração. Naquele momento, a dor nem era tanta. Agradeceu-a, prometendo um dia retribuir o favor. Ela apenas sorriu complacente e disse para aparecer mais vezes na igreja. Ele, sorriu, pensando que tinha recebido um convite de um anjo. Ou uma anja... Ele nunca soube muito a diferença.

Após a conversa e o incenso queimado, ele começou a se sentir melhor. A sensação de que lhe puxaram um tapete, aos poucos, estava sendo refeita. Caminhava agora pelo seu bairro com uma tranquilidade maior, uma paz de espírito lhe tomou conta de súbito. Observou uma bela árvore e resolveu abraçá-la. Imaginou o que seus amigos do trabalho diriam se vissem aquela cena dantesca: um notório procurador do trabalho fazendo aquela cena.

Ele, porém, decidiu não mais se cobrar. Alejandra estava com ele há alguns anos, mas ela nunca quis firmar um compromisso com ele. Nunca entendera o medo dela de apostar em mudanças, de querer aproveitar a vida ao seu lado. Por um momento, achou que poderia cansar-se disso. Era uma sensação meio ácida em sua boca, a qual ele nunca havia tido. Amava Alejandra de um jeito romântico, típico dos heróis do século XVIII. Tratava-a como uma rainha e dama na sociedade, e de uma maneira mais peculiar na intimidade do casal.

Balançou a cabeça, como se dissesse a si mesmo que ela escolheu o caminho dela. O máximo que poderia fazer era escutá-la, para que pudesse entender o que a levou a tomar tal decisão. Se ela o amava, por que fazer isto? E mais... Se ele era tão especial na vida dela, por que abandoná-lo? Sua cabeça não conseguia entender exatamente o que se passava. Não poderia ser TPM? Ele acreditava que não. Pensou em inúmeros possibilidades, até que se esgotou com o não saber.

"Tudo bem" - pensou, dando de ombros "Ainda darei uma oportunidade de entender tudo o que acabou de acontecer. Afinal, farei isto por amá-la, mas não a tal ponto de continuar ferindo-me a vida inteira." Desta vez, repuxou o canto do lábio esquerdo e arregalou um pouco só o olho esquerdo. Ficou satisfeito com a conclusão a que chegara. Parou em um quiosque e sorveu uma água de coco. Um pouco do centro estava caminhando a passos largos a se reestabelecer. Sentiu-se feliz com isto.

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