segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Julianna

Julianna sentia-se diferente nesta manhã chuvosa, típica de um inverno carioca. Estava exausta após tanto trabalhar à noite. Realmente tinha sido um de seus piores plantões, mas mesmo assim, encontrava-se diferente. Embora o stress tenha sido tamanho, tendo que acordar duas vezes durante a madrugada, nada poderia estragar o seu humor. Até mesmo a eventual saída da dieta com uma pizza na noite anterior não a aborrecera; muito pelo contrário, o fato de empanzinar-se sempre vinha acompanhado do centro límbico reforçando positivamente aquele comportamento.

Como poderíamos definir a sensação desta mulher, no alto dos seus trinta e três anos de idade? Ela estava feliz. Feliz por estar trilhando um caminho bom para ela, feliz por conseguir estar desempenhando sua função profissional com maestria... Mas, principalmente, feliz por ter encontrado um amor. Nada daquilo do que ela conhecia, afinal nunca teve nenhum tipo romântico na sua vida ou sonhador; aprendera a nunca se abrir demais, justamente para evitar sofrer.

Só que este jovem rapaz aparecera na sua vida de maneira tão súbita e inesperada, quase como se estivesse arquitetado um plano divino. Eros e Cupido haviam feito uma deliciosa armadilha da qual ela não teria escapatória - até teria, mas não que ela quisesse muito. Este relacionamento estava trazendo à tona sentimentos dentro dela sempre desejados, mas nunca aflorados. Seu bom humor havia volta - uma culpa não exclusiva do sexo - mas pelo fato de se sentir desejada, mulher, uma fêmea sedutora e extramamente carinhosa para com o seu recém-chegado.

Era impressionante como ele havia mudado sua vida: em pouco mais de seis meses, ela se matriculara na academia, passara a fazer tratamento de estética; a vida estava mais colorida, mesmo no mais cinza dos dias. Absurdo, também, era como ela investia seu tempo pensando nele, conversando. Nas mais pequenas coisas, como saber qual seria o melhor cartão de crédito ou pedindo ajuda em algo trivial na informática - era uma inepta - tudo era algum motivo para que reforça-se o sentimento de estima pelo seu novo amor.

Amor... Pegou-se pensando no significado desta palavra. Era este o exato sentimento que estava tomando o seu ser. Resolveu, por incrível que possa parecer para alguém que tenta tampar a intuição com a racionalidade, deixar aquilo fluir. Descobriu-se feliz ao contar suas histórias da infância, desejosa por um contato físico com ele, mesmo que fosse visual, mesmo que fosse de longe - quando sentia o perfume que ele usava pelas ruas da cidade, um sentimento de acolhimento e de proteção subiam-lhe a cabeça, direto do coração.

Iria encontrá-lo hoje. Sabia exatamente isto, contava as horas, os minutos e até os pequenos segundos do dia para que tudo acabasse... Para que ela pudesse se acabar com ele, entregar-se ao seu amor. Pegou-se sorrindo de canto de boca, inclinando a cabeça para frente. Suspirou um pouco, até desejosa para que ele estivesse ali para poder saciar a sua fome por um beijo. Um beijo longo e demorado. "Calma" - pensou para si mesma - "já está chegando a hora." Controlou-se. Concentrou-se novamente no trabalho, não que, eventualmente, seus pensamentos migrassem para outro lugar.

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