terça-feira, 12 de outubro de 2010

Da vida

Jocilane estava atenta ao celular. Observava-o algumas vezes por dia, mais do que o normal. Verificava o volume, se estava funcionando. Não o desligava com medo de perder a ligação: colocava-o sempre para carregar e verificava se estava na área de cobertura. Sua preocupação estendia-se ao serviço de bate-papo e ao seu e-mail. Passou a verificá-lo mais do que as habituais duas vezes por dia. Frequentava as páginas do escritor que lhe causava tamanha confusão.

Ela tinha pedido para que ele fosse embora. Só que ela não acreditava que ele fosse. E ele foi. Agora, se encontrava mais perdida do que estava antes: seu status quo não mais lhe agradava. O seu cotidiano passava a ser mais do que enfadonho; em certas horas, chegou a amaldiçoá-lo por tê-la conhecido, por ter mostrado para ela a felicidade de um verdadeiro casal - um amor completo, companheiro e sincero. A honestidade era a base do relacionamento deles.

Mais uma vez, seu comportamento impulsivo havia precidido qualquer análise racional. Arrependia-se gradativamente daquela atitude, ainda mais pelas amostras do seu contemplar. Sentia-se pequena, chorava copiosamente. O CD com as músicas que ele havia gravado tocava em seu rádio. Ela não conseguia tirar de lá. Lia, vez por outra, os cartões de amor enviados por ele. Seus olhos, inchados, desejavam ter uma pequena última visão dele.

Não, isto ela não queria. Sabia exatamente o que aconteceria se o visse: ela amoleceria, desejaria-o de maneira mais intensa e ardente do que antes. Ela se entregaria de corpo novamente para aquele homem. O que ela não conseguia era puxar a sua alma de volta. Estava enlaçada com a dele, de uma maneira tão bonita que até o mero sofrimento da distância não poderia fazê-la esquecer. Ao dormir, lembrava dele. Procurava-o para abraçar durante a noite. Acordava, vez por outra, com a sua mão direita, desejando que estivesse ali. Lágrimas minavam pela sua face e ela perdia o sono.

Ao acordar, lançava seu olhar pelo quarto, procurava qualquer coisa: uma mochila, uma peça de roupa, uma meia jogando no chão... Nem mais para discutir sobre a sua falta de organização ele estava mais lá. O que ela comia perdia o sabor, o dia parecia mais cinza... Tudo aquilo que ele lhe dava, havia partido: um imenso peso era o seu coração, ele que outrora saltitava a cada mensagem, a cada ligação. Sem falar nos encontros: o beijo, a paixão desenfreada, o coito...

Sentia-se presa a seu status e deseja estar com ele. Achava-se imprópria para tal, duvidava de sua própria capacidade para conseguir isso. Procurou, então, resignar-se com esta situação. A saudade era sua maior inimiga, mas com o tempo... Com o tempo ela não passaria. Ela a acompanharia por toda sua vida ao saber o que tinha perdido. Ao lacrimejar, olhou mais uma vez para o seu celular. Apertou-o com força, como se sua vida disso dependesse. E começou a discar os números, mesmo sem ter certeza do que deveria fazer... Apenas sabia que precisava dele. E de força, para tomar a atitude que deveria tomar.

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