domingo, 17 de outubro de 2010

Classificado

Quem almeja o que nunca teve, precisa fazer o que nunca fez. Esta frase não parava de ecoar na mente de Adalberto. Ele era de uma família de classe média e sempre postergava o seu sonho profissional, alternando de escolha de galho em galho. Poderia ser resumido como a Escolha de Sofia, pelo tempo que demorou para optar por algo. E quem lhe fez optar por uma decisão fora, ironicamente, Sophia. Uma mulher mais madura, como adorava as que fossem suas.


Ela era uma competente arquiteta que tinha se graduado por mérito próprio, esforçando-se sempre para poder dar uma boa vida para a sua tia, que a havia criado no lugar de seus falecidos pais. Encontraram-se em uma festa de casamento e conversaram durante um longo período. Trocaram telefones e, depois, as comunicações necessitavam ser cada vez mais breves, mais pessoais... Até que se apaixonaram e entregaram-se a este amor.

A única opção de Adalberto para tê-la integralmente era um concurso público. Era inteligente, porém pouco esforçado. Ela havia se tornado este combustível. Foram meses de estudos diários, horas desgastantes... Choro, desespero. Ataques de raiva e ataques de esperança. Alegria por estar acertando cada vez mais as questões. Brigas eventuais com Sophia por conta deste stress.

Mas tudo tinha valido a pena: ele havia recebido a notícia tão esperada. Classificado. Sabia que, pela quantidade de vagas, estava dentro. Tudo, então, misturou-se em uma euforia e uma sinfonia de sentimentos tão complexos que fora do riso ao choro e voltara várias vezes, com mesclas de gritos quase que primordiais. Sophia, aquela mulher que havia feito com que ele buscasse o melhor para ele e para ela, poderia ser agraciada com um pedido de casamento.

Pedido este que nunca aconteceu, ao menos não com este resultado de segurança de um futuro estável. Ela o havia abandonado. Sentia-se um aluno – um ser sem luz – pois a sua Sophia – conhecimento – o havia abandonado. Ela, que era o seu mundo, tinha lhe puxado o tapete emocional. Agora, ele tinha a estabilidade e a possibilidade de lhe proporcionar um futuro; sem ela.

Sentou-se, após este conclusão, no chão de seu quarto. Fora parabenizado por seus familiares e, agora, pretendia ficar só. Fez o que um homem vencido poderia fazer: soube perder. Respirou fundo, pensou nela e em todos os momentos felizes que passaram, nas brigas, em tudo... E apenas agradeceu. O amor que havia tido com ela era bonito demais para que, agora, ele não pudesse dizer: muito obrigado por tudo. E rezou para que este amor levasse até ela a notícia.

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