segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Das metades

O nosso herói era um jovem adulto sonhador. Seus comportamentos sempre alegres e carismáticos atraíam várias pessoas; e pensar que, quando adolescente, era tímido e sofria de baixa estima. Tinha se tornado um adulto mais confiante e um pouco menos inseguro. Buscava ainda a tão esperada transição profissional, para que pudesse desabrochar para poder sair da casa de seus pais.

Godofredo conheceu Bethania em uma sala de bate-papo virtual. Ela, de vez em nunca entrava, resolveu naquele primeiro dia da primavera entrar. Ele, solteiro, estava ali apenas para curtir uma noite de um modo despretencioso. Entrosaram-se. Resolveram, após muita conversa e telefonemas, se encontrarem para jantar. Ela nunca havia saído com alguém totalmente desconhecido da internet e ansiava por uma coisa boa e nova na sua vida. Ele estava ainda curando-se de um antigo amor.

A conversa foi longa e boa. Os beijos, calorosos e apaixonantes. O sexo que seguiu foi indescritível. Ela saiu de lá querendo mais dele, assim como ele dela. Ela era sempre reticente com relação ao futuro dos dois, apenas vez por outra fazia um plano. Apesar de ter épocas em que ela completamente surtava e declarava o amor dos dois aos quatro ventos. Ele, um eterno romântico, apreciava e a acarinhava como ela nunca havia sido.

Bethania sabia que tinha algo bom e puro, especial demais para ser verdade. Mas era. O amor de filmes que ela havia, a paixão desmedida e a sinceridade que eles tinham um para com o outro apenas a tornava mais mulher, mais bem-aceita; contou-lhe todos os seus segredos. Assim como as pequenas coisas do dia-a-dia, as pesquenas inseguranças; tudo era tratado por ele com um amor inenarrável. Ela, por sua vez, fazia de tudo para locupletá-lo. Era sábia a decisão de ficar com ele.

Godofredo, por sua vez, percebia a iminência de se estabelecer. Embora fosse tudo o que ela precisava, ele necessitava de um emprego. Havia conseguido um; ficou exultante. Deixou uma pequena controvérsia passar para que pudesse falar com ela. Com isto, poderiam casar e ter os filhos que desejavam. Toda vez que falava com ela, deixava passar a oportunidade apenas para que ele pudesse contar no momento apropriado. Porém, o momento apropriado nunca chegou.

Ela impediu que isto acontecesse. Pediu para que ele fosse embora da vida dela. Aturdido, perdeu o chão. Queria falar com ela, conversar. Ela negou. Ele não sabia se por ser especial demais, ela o estava mandando embora. Como poderia, se fosse por isso? Como podemos mandar a nossa felicidade embora? Ele não sabia. Uma infinidade de perguntas rodeavam seu coração e nenhuma com resposta. A única resposta era: ela não mais o queria.

Ele, resignado, aceitou. Não tinha mais forças para lutar por alguém que o rejeitava. Doía perder alguém que fora especial, mas doía ainda mais o desejo dela para que ele saísse de sua vida. Ele imaginou todo o futuro planejado pelos dois, todos os quereres, tudo o que amavam um no outro descer ralo abaixo. Ela própria tinha tomado esta atitude.

Debulhou-se em lágrimas. Parecia um adolescente ao perder o seu primeiro amor. Não sabia se ela fazia o mesmo; com certeza não, pensou. Ela tomou a atitude de uma maneira fria e controlada, como se já o quisesse fazer há muito. Cogitou, então, que tudo o que prometeram um para o outro fosse apenas ilusão, um desejo transitório de um pedaço de esperança, o qual ela precisava para sub-existir naquele momento de sua vida. E, como já o tinha, poderia descartá-lo.

Dobrou seu corpo no chuveiro e tentou conter os soluços de sua dor. Sorriu. Não sabia porque, mas sorriu. Um pequeno, de canto de boca. Estava feliz por sua dor ter sido sincera, por ele ter se doado de uma maneira tão honesta e pura, de ter sido quem sempre foi: uma pessoa proba e especial. Fazia questão de ser assim. Era de coração aberto que tinha começado aquela relação e fora assim que terminara. Sorriu, de novo.

Afinal, sabia o quanto era especial. Não naquele momento de dor... Mas sabia que realmente era um ótimo partido para ser posto de lado. No futuro, ele saberia disto. E não mais se importaria se Bethania se arrependeria do fato. O pedido foi feito por ela. Ainda a amava, mas o que poderia fazer com tamanho sentimento que lhe tomava? Não poderia insistir, bater naquela porta fechada... Bethania a havia trancado com um cadeado, intransponível para todo e qualquer Godofredo que ousasse chegar perto. Havia até colocado cinco cães para guardar aquela prisão sentimental na qual estava.

A ele, apenas restara o fato de ser feliz com outra pessoa. Alguém que pudesse aceitar ser feliz com ele, de uma maneira integral, romântica e para toda vida. Alguém que quisesse ser a mãe de seus filhos, em um relacionamento onde ela não precisasse mentir, apenas ser ela mesma. E ser amada por ser quem ela é. Isto assusta, pois passa pelo princípio de auto-aceitação. Godofredo ria de suas cogitações, algumas pareciam absurdas. Como não podemos ousar ser felizes com alguém que nos ama pelo que somos e nos respeita? Resolveu, apenas, dizer para si mesmo: "Vida que segue...".

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