sexta-feira, 16 de julho de 2010

Josimar e o gris

Chovia naquela sexta-feira tristonha. Enquanto Josimar andava pela rua, em direção ao seu prédio, um gosto de amargo subiu-lhe a boca. Não teria mais a sua linda mulher para lhe tirá-lo com palavras gentis, carinhos ou calorosos beijos. Seu relacionamento tinha chegado ao beco sem saída onde, inevitavelmente, um dos dois pede para sair dele. E, no caso do relacionamento dele com Bertália, tinha sido Bertália.


Antes de entrar na viela que conduzia a seu prédio, apreciou aquele momento. Era um momento de solidão, algo meio gris; o vento zunia-lhe pelas orelhas, sussurrava palavras de pranto. A chuva que precipitava, misturava-se com suas lágrimas em algo poético e doloroso. Como pôde perder alguém que lhe era tão caro, ainda sem entender? Como as pessoas saem de nossas vidas, pedindo desculpas, mas saindo das nossas vidas? Como alguém que não quer sair, opta por?

Tudo isto não ajudava em nada. Parou. Aumentou a intensidade da chuva e ele se deixou matizar por ela. Notou que desde que ela foi embora, não parava de chover. Até o céu estava triste com a separação daquele belo casal. Deu de ombros: não havia mais nada que pudesse fazer. Fora até o seu limite, suportando todas as intempéries e buscando sempre pensar no lado de Bertália. Sobrou-lhe, então, o último argumento do herói romântico.

Ela pediu a separação. Ele aceitou. Sabia que o amor era como um pássaro, devia ser deixado livre para ver se voltava para o seu caloroso ninho. Após ficar um pouco encharcado, adentrou na portaria e tocou o botão do elevador. Pensou que tinha deixado o celular em casa para não esperar por uma ligação dela. Riu-se do quão nécio estava sendo: pensava o tempo todo nela e em como ela poderia a qualquer momento ligar.

Abdicou de criticar-se mais – já estava sofrendo mais do que o suficiente. Não conseguia trabalhar, nem sair, nem pensar em mais nada a não ser a falta que ela fazia. Questionava-se se ela sentia o mesmo. Nunca saberia, contudo. Ela não ligaria nunca mais. Nunca mais os beijos, nunca mais o romance, nunca mais a voz dela rouca e sua risada em espiral, linda, que sempre o fazia admirá-la.

Ao entrar em sua casa, escutou “Pedaço de mim”, do Chico Buarque. Parecia realmente o reverso da dor de um parto. Tentou escolher um vinho na geladeira, mas era a marca preferida dela. Desisitiu. Balançou a cabeça e desligou o som. Gostava tanto daquela mulher, com tamanha intensidade, que mesmo que sofresse era como se ela estivesse perto dele, mesmo que fosse em memória, mesmo que fosse no momento mais agudo de seu pranto. Estava tentando se acostumar com a idéia do nunca mais.

Tomou uma ducha quente. Ficou bons minutos ali, tentando fazer com que a água levasse a angústia embora. Tentou distrair-se com qualquer coisa, para que Morfeu o arrasta-se daquela terra e pudesse, ao menos, sonhar com ela algo feliz e bonito. Algo que pudesse honrar tudo aquilo que ele haviam vividos juntos: um amor bom, puro e belo. Mas que tinha acabado o seu prosseguimento, deixando um devastado campo de dor.

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