domingo, 4 de julho de 2010

Ataíde e Patriccia

Ataíde tinha acordado cansado naquela manhã de domingo típica de um inverno. Ao levantar-se de sua cama, olhou para o lado e percebeu que sua amada não estava mais ao seu lado. Demorou, aos poucos, tanto pelo sono quanto por não querer lembrar, que ela havia viajado para um Congresso de Medicina. Imediatamente a isto, veio em sua cabeça a discussão que eles tiveram antes dela viajar.


Não havia tido ofensas por nenhuma das partes; sempre se respeitavam. Mais do que isto, chamavam a si mesmos de amantes, mesmo com um relativo tempo de relacionamento. Mais do que isto: prometeram sempre, um ao outro, sempre serem amantes, não importando qual passo da relação mais a frente seria tomado.

Aí residia a questão do relacionamento deles. Ele, um promissor estudante de direito e concurseiro e ela uma médica já realizada na sua profissão. Ele tinha cinco anos a menos do que ela; não que isto importasse um para o outro: importava para ela a vontade que tinha de ser mãe. Ataíde, por sua vez, conversava com Patriccia sobre isto, vez por outra, quando o inconsciente dela trazia a questão à tona. Sexo, amor, companheirismo e conversa eram a base do relacionamento deles, variando de posição dependendo da necessidade do casal.

Eles prometeram não se falar neste ínterim. Queriam aprofundar o relacionamento, levá-lo um passo a diante. Isto, porém, deveria ser dado baseado na falta que o amor de um pelo outro causasse, não simplesmente por uma mera necessidade de se ter alguém – não que fosse o caso – mas Ataíde queria ter certeza de que Patriccia iria tomar sua decisão pautada exatamente sobre este critério: o da felicidade pessoal dela, em primeiro lugar.

Ele, então, decidiu caminhar naquela manhã. Tinha por hábito fazer isto quando precisava juntar os quebra-cabeças de sua vida. Tomou um suco e foi andar. O vento frio, misturado com a luz do sol o fez lembrar dela. Nada que fosse muito diferente, tudo fazia lembrar dela. Ao caminhar, percebeu a marca que ainda tinha em seu braço que ela havia feito fazia uma semana.

Era o polegar dela. Ela o havia marcado em uma tórrida noite de amor, em um descontrole causado pelo prazer que ele proporcionou a ela; um dos inúmeros daquela bela tarde em que comemorou o seu aniversário com ela. Ela, tímida após sempre repetir o mesmo ato, se desculpava. Ele, sorrindo como uma alvorada, dizia que adorava o descontrole dela pelo simples fato de se entregar totalmente a ele, sem pudores.

Algo que ele nunca disse é que o fato de marcá-lo era apenas mais uma maneira dele tê-la em seu dia. Além da mente, tomado pelas doces e inteligentes palavras, o coração era dela também, especialmente o Ventrículo Esquerdo. Mas quanto mais, melhor, pensava Ataíde. O seu próprio corpo era o templo de amor dela e ele gostava que a sua deusa, musa inspiradora, deixasse claro que ali era somente o reduto dela.

Abriu um sorriso de canto de boca, típico que ela fazia quando ficava tímida após confissões amorosas realizadas por ele. Parou a caminhada, olhou para cima e desejou que ela pudesse ler os seus pensamentos de alguma maneira. Alguma maneira que não conseguisse burlar a regra estipulada por eles (nunca foram bons nisso, a ansiedade de ambos sempre debelava estas regras sobre afastamento e futuro do casal).

Ele queria ter uma forma de magia, de canto, de poesia que pudesse dar a ela a certeza do quão especial e importante ela era na sua vida. Por isto, a colocava em primeiro lugar no relacionamento deles, porque ela também o colocava. Ele, sorrindo com aquele amor imenso que tinham um pelo outro, resolveu esperar. Iria ser paciente como os sábios e lembrou-se de duas coisas muito importantes que aprendera em sua meninice.

A primeira é que lembrou de um ditado que dizia que um homem estava decidindo que estrada tomar para que pudesse resolver a maior questão de sua vida.Resolveu, então, tomar o caminho menos usado, o mais ousado. Foi difícil no início, mas ele percebeu que era o melhor caminho para ele, pois os desafios encontrados recompensavam-no com tesouros ainda maiores a serem descobertos.

A segunda delas é que o amor é como um pássaro, devendo deixá-lo livre para que possa voltar ao seu ninho. Ela era sua pequena borboleta, que trazia-lhe a esperança de que cada dia seria melhor do que o anterior. Valia a pena esperar por ela, mesmo que fosse um éon de espera. A eternidade seria pouco para que ele pudesse desfrutar do que ela poderia oferecer para ele, através da sua própria escolha de felicidade. Paciente, sorriu de novo, com esperança no que poderia acontecer.

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