quinta-feira, 8 de julho de 2010

Lisandro e Berthonia

Lisandro era o típico bom rapaz de vinte e cinco anos. Estudioso tardio, embora brilhante, tinha ingressado na faculdade de engenharia e era um aluno para lá de promissor. Era um bom filho, sempre respeitador dos limites impostos pelos pais e sempre atento a conversar com eles. Um bom amigo, sempre disposto a escutar. Nos relacionamento, era um excelente amante.


Padecia, porém, de um mal comum em todos os seus relacionamentos: não sabia estabelecer os limites necessários. Tinha um grande medo de perder as pessoas, impondo algumas coisas que não queria ou não podia fazer. Se pegássemos todos os seus relacionamentos anteriores, veríamos que a culpa principal era dele, sendo por demais permissivo.

Na faculdade, sempre era quem fazia o trabalho do grupo. Em seu estágio, resolvia o problema dos outros também. Até que, um dia, ficou encantado por uma engenheira da empresa. Ela era cinco anos e cinco meses mais velha do que ele. Seu nome era Berthonia; seu pai era Bernardo e sua mãe era Anthonio, como ele descobriria mais tarde.

Ele, pouco a pouco, usava desculpas para estar perto daquele fascinante mulher: conservava a beleza de sua adolescência, matizada por traços seguros trazidos com a idade. A certeza no que fazia profissionalmente apenas o encantava mais e mais. Tinha um humor ácido, inteligente e rápido. Ele, porém, estava enlouquecido por descobrir outras qualidades que ela teria.

Ela o percebia, também de maneira gradual. Um rapaz brilhante, dotado de uma inteligência e carisma impressionante. Achava-o um menino, mas quando o ouviu falando sobre a vida, achou-o um homem feito. Espantava-se com tantas qualidade que apareciam e, principalmente, com o seu bumbum lindo. Ela enrubesceu uma vez em que admirava uma de suas partes preferidas quando ela quase a pegou. Admirava também o fato de usar óculos: achava um charme à parte.

Ela estava desejosa por uma oportunidade de conhecê-lo melhor. Arrumou um almoço com um cliente para conversar sobre um projeto. Após conversarem e o cliente ir, ficaram mais uma hora conversando. Resolveram marcar um café, mais tarde. O café da tarde virou jantar que, por sua vez, se concretizou em uma maravilhosa noite de amor. O menino havia surpreendido a mulher em como era dedicado na cama. Era carinhoso, levando o café-da-manhã e acordando-a com beijos no pescoço e poesias sussurradas ao pé de seu ouvido.

Não assumiram um compromisso, porém nenhum dos dois saía mais com ninguém. Ele a conquistava dia-a-dia, com pequenos sms, e-mails e toda forma de carícia. Ela sentia-se seduzida e retribuía na mesma moeda. Algo, porém, estava prestes a acontecer. Ela começava a se perguntar se aquele menino poderia ser o pai de seus filhos. Achava-se velha e queria ser mãe o quanto antes: sabia que a gestação poderia ser difícil, apesar dos inúmeros avanços da medicina nesta área.

Ele não entendia o distanciamento que, levemente, acontecia. Resolveu intensificar seu romantismo, sem sucesso. Conversaram algumas vezes, tentando chegar a uma conclusão. Lisandro, confuso e cheio de dor, resolveu dar o passo que não queria. Pediu para que terminassem, para que ela pudesse avaliar o que queria fazer. Ela foi pega de surpresa; achava que o amor dos dois havia acabado. Ele reiterou que não, que apenas fazia isto porque a amava demais. Amava-a tanto que desejava passar a vida inteira do lado dela. Ela, contudo, teria que decidir.

Decidiram não mais se falar. Ele foi estagiar em outro setor da empresa. No dia seguinte a esta decisão, Lisandro sofria. Pegou-se, várias vezes, com a mão no celular pronto para lhe ligar. Quando via um e-mail da firma com o nome dela, sentia uma palpitação no peito. Sofria por amor. Quase ligou para ela quando, no final do dia, sentiu o cheiro do perfume preferido dela no corredor. Sabia que ela havia passado por ali. Isto tudo ocorreu só no primeiro dia.

Viveria uma angústia por tudo isto. Sabia, entretanto, que valeira a pena cada esforço que desse na direção de concretizar sua relação com ela (seu maior desejo) ou não; amava-a tanto que gostaria que ela tomasse a melhor decisão para ela, sem que ele pudesse pressioná-la com o seu romantismo, os seus carinhos; com o seu amor.

Cada vez que seu corpo gritava a ausência do corpo dela, cada vez que ele lembrava que adorava brincar com seus negros cabelos sedosos, cada beijo no pescoço, cada jura de amor feitas no meio da conjunção do dois: tudo isto serviria de força para que suportasse a dor que sentia. Sabia que deveria se sacrificar no altar do amor para obter o que desejava. Lembrou de seu pai lhe explicando o que era sacrifício – vinha do termo sacro e ofício, ou seja, ofício sagrado. Sorriu, olhando para o celular, esperando uma ligação. Iria esperar o tempo necessário pela certeza do seu amor.

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