quarta-feira, 7 de julho de 2010

Joelmo e seu Concurso

Joelmo vivia a expectativa de sua vida. Era um rapaz sonhador, passional e sempre buscou algo melhor para ele em sua vida. Desejava, do âmago do seu ser, se tornar parecido com seu pai: um homem honesto, trabalhador e que vivia exclusivamente para a sua família. Sua mãe era a mulher mais feliz do mundo, sempre acarinhada por um homem bom e disponível para seus filhos. Incentivava-os a crescer, tanto em estudo quanto em caráter.


Nosso protagonista, então, seguiu o mesmo caminho. Teve algumas decepções em relações a escolhas profissionais, mas agora realmente tinha se aprumado na vida. Estava cursando direito e se preparava para um concurso público de segundo grau. A escolha veio depois de um concurso ter sido frustrado por motivos alheios a sua vontade. Desta vez, prometeu ele a si mesmo, desta vez iria dar certo.

Estudava dia e noite, deixando de lado amigos e família. Sacrificava-se para que pudesse alcançar uma oportunidade melhor: sentia-se velho, já com seus trinta anos. Questionava-se se podia ser a metade do homem que seu pai é. Sentia-se, de certo modo, pressionado por ter um exemplo tão correto e bondoso de ser humano dentro de casa. Resolveu, então, apostar em si mesmo, uma única vez.

Sabia que a decisão de estudar oito horas por dia, no mínimo, era radical. Tinha tomado esta atitude baseado na solidão que sentia em sua vida, uma sensação de estar vivendo a sua vida pela metade. Não mais queria se sentir incompleto, queria se tornar o protagonista de sua própria vida. Era raro isso acontecer em sua vida: normalmente, era vacilante e reticente em suas escolhas, sempre buscando caminhos difíceis e respostas fáceis.

Sua resposta, agora, não seria nada fácil. Seria dura, dando o seu sangue e todo o seu emocional para que pudesse prosseguir. Seus dias seriam cheios de intempéries, com direito a duvidar de si mesmo, de ser o seu próprio antagonista. Era ele quem, em primeiro e último lugar, seria quem poderia levar-lhe aos louros da glória ou ao poço sem fim da derrota. Viveria esta batalha interna a cada dia.

Cada folha que lesse, cada pequeno exercício resolvido... Tudo isto seria o balizador para sua vida. “Vou triunfar” – prometia-se a cada exercício feito, a cada dúvida. Chorava, por vezes, a solidão que os estudos traziam-lhe. Não se deixou abater no início: prosseguiu, com passos curtos e firmes, até que pudesse correr de novo. Acreditava em si mesmo e dali não haveria mais retorno.

Uma semana antes da prova, já exausto e bitolado em certo ponto, seu cérebro levou-lhe, de súbito, ao passado. A um namoro que teve com Carmina, uma linda e apaixonante adolescente. Eles tinhas quinze anos, sua primeira vez tinha sido com ela. Achava-a fascinante, e ela era. Ela também o achava assim. Ele a perdeu por não confiar nele mesmo. Lembrou-se que, em dado momento do relacionamento deles, ele havia cedido. Ela, então, pouco a pouco, foi deixando-o de lado. Chorou muito por isto.

De volta para o presente, sorriu. Um sorriso gostoso, daqueles de quando a ficha cai. Sempre deixou que as mulheres fizessem dele gato e sapato, mas tinha percebido o quão especial era: era um homem e tanto, apenas buscando o seu caminho profissional. Lembrou do quão especial todos achavam que ele era, inclusive seus mais próximos amigos. Admiravam o seu jeito espontâneo e meio moleque. Isto contrastava com a sua profundidade de ser humano e o quanto sabia tratar de modo adequado e aprazível outro ser humano.

Suspirou e sorriu de novo, espreguiçando-se. Lembrou rapidamente de todas as suas ex-amantes e decidiu, firme, que também levaria o seu relacionamento baseado na certeza do quão especial era. Não deixaria, contudo, do seu amor deixar de ser belo e puro; muito pelo contrário, continuaria sendo quem ele é. Só que, agora, quem em sua totalidade era: confiaria em si mesmo para tomar as atitudes, por mais complexas e dolorosas que fossem. Sabia que, no final, valeria a pena por saber a verdade.

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