sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pleore e a Lógica

Pleore era uma fiugra um tanto quanto comum. Era um jovem que estava chegando a vida adulta e deveria escolher uma profissão. Nada muito diferente das pessoas comuns; porém Pleore não era lá uma pessoa. Quando menciono figura, na verdade, Pleore é filho de duas figuas de linguagem: filho do Pleonasmo e da Repetição. Pleore foi o nome dado pela matriz de patentes genéricas de nomes de figuras de linguagem. É uma nomenclatura temporária, mas melhor do que a matriz anterior que atribuía somente números a eles. Imaginem o pai brigando com o filho e o chamando de 1243798624?


Pleore estava triste porque tinha que fazer esta resolução, não porque evitava um caminho profissional. Adorava isto, sempre gostou de aprender a língua. Ele estava triste porque seu pai estava sofrendo de Alzheimer e sua mãe não poderia continuar a repetir as palavras porque estava sofrendo de Parkinson. Ele teria que escolher uma das duas profissões deles, deixando a outra em aberto para que pudesse ser escolhida por outra figura de uma família maior.

Transtornado com aquilo que o consumia por dentro, Pleore resolveu recorrer a algo fora do seu cotidiano: foi procurar a Lógica. A Lógica era tida para aconselhamentos extremos porque pouco importava para aquele ser racional o que deveria ser escolhido: contato que a proposição fosse verdadeira para os seus clientes, não importando se P ou Q eram bons ou não, aquilo era tido como uma Tautologia. E tudo o que importava para ela era ser tautologicamente correto.

Pleore tirou o terno do armário que sua mãe havia comprado: todo preto. Não só o terno e a calça, mas também a camisa, a gravata, as abotoaduras, o lenço, os sapatos, as meias e a cueca. Vestiu-se assim porque sentia uma necessidade extrema de parecer seguro mediante a tão temida Lógica. Poucas figuras de linguagem recorreram a ela justamente por não haver uma brecha interpretativa diferente. Mas esta nossa figura estava determinada.

Dirigiu-se até o escritório da Lógica. Lógico que era um enorme escritório, com logicamente uma sala para espera. Algumas Equações de Segundo Grau estavam presentes: X queria se divorciar de Y porque estava desconfiado de que o 0 da equação estava significando bem mais do que nada para a sua esposa; A Fórmula de Báscara estava cansada de ter duas opiniões diferentes e queria somente uma, o que estava gerando uma imensa confusão entre os termos. Ah... E a pobre Equação de primeiro grau estava procurando uma companheira, mas deu de ombros ao ver a confusão da de Segundo Grau e foi-se embora.

A secretária da Lógica pediu que Pleore entra-se e fosse objetivo: sua consulta não poderia passar de doze minutos e trinta e cinco segundos. Pleore fez que sim com a cabeça, mas logicamente ele não tinha um relógio. Achou irrelevante confirmar isto, mesmo porque a confusão de sinais do saguão de espera tinha lhe dado uma imensa dor de cabeça e resolveu apenas fugir dali para sua decisão mais difícil.

Quando entrou, se surpreendeu com a Lógica: imaginava uma senhora idosa, típica avó como se fosse a Eva Tudor. Não era nada disso... Era jovem e elegante, como uma Betty Boop, com um vestido preto e uma forma para lá de sedutora. Assustou-se. A Lógica pediu para que ele senta-se, enquanto ela resolvia certas coisas para lhe dar a única e exclusiva atenção pelo tempo proposto. Logicamente, seria descontado o atraso dela.

Enquanto a observava escrever, visualizou que ela não tinha letra de médica, daqueles garranchos apressados. Como era afeto à área de humanas, gostava de analisar as coisas com implicações na personalidade. Via que o "m" gerava quase que um formato de coração, mas desprezou aquela pequena curiosidade das demais letras. A Lógica tinha acabado e guardado tudo na pasta, pedindo que lhe explicasse o seu caso. Agora sim o tempo estava correndo.

Percebeu que o problema de Pleore era simplesmente uma proposição de ou p ou q, em que um dos valores deveria ser verdadeiro e o outro falso para que ele pudesse ter como verdadeira aquela proposição. Pleore discorreu sobre tudo o que gostava, mas a Lógica apenas o fitava com seu olhos. Parou de falar. Houve um pequeno silêncio. Estava nervoso com aquela situação e também tinha um prazo para informar a Gramática o que ele iria escolher.

A Lógica fez algumas proposições de Se, então; e; ou; se, somente se... Mostrou problemas enormes, que mal cabiam numa folha de papel A4. Pleore não sabia, mas a Lógica nunca tinha buscado uma resolução tão completa para um problema tão simples. Mesmo assim, tudo aquilo tinha dado um nó na cabeça de Pleore, mas ele prosseguia concordando quase que automaticamente balançando positivamente o seu crânio já confuso. Não entendia nada. A Lógica fez uma cara de que havia acabado de explicar, contudo tudo aquilo já não fazia o menor sentido.

Resolveu que iria fazer do seu jeito. Olhou bem profundamente nos olhos dela, como se quisesse estabelecer uma ponte, uma forma de conexão... Uma sincronia entre eles. Pegou na mão dela e perguntou: - "O que você faria se fosse eu?". Percebeu que depois de perguntar, a Lógica tinha ruborizado. Sua mão estava mais quente e com um pouco mais de sudorese, muito embora o ar condicionado daquela sala fosse perfeito.

Viu que ela engoliu a seco. Perguntou se estava tudo bem e, viu de sua órbita ocular direita escorrer uma pequena lágrima. Deu seu lenço para ela que o usou e o colocou em cima da mesa. Ela disse que, em todos os anos, até mesmo quando conversava com Platão e outros teóricos da matemática, todos só queriam a usá-la para atingir seus objetivos masculinos, doravante ninguém nunca tivesse perguntado qual a opinião dela, incluindo-a na conclusão de maneira sentimental.

Agora Pleore estava realmente confuso. Quantas camadas poderiam haver debaixo daquela entidade aparentemente fria e calculista? Lembrou do "m": tudo fazia sentido agora. Usava uma figura feminina sedutora porque queria mandar o sinal de que estava disponível para uma relação; a letra pequena e tímida revelavam um ser que desejava ser preciso no pouco que fazia por medo de ser afastado por outra pessoa. Concluiu que a Lógica usava deste método para não ferir os seus próprios sentimentos.

Convidou-a para almoçar. A Lógica relutou, falando que havia cliente o dia inteiro. Em todos estes milênios, nunca havia cancelado ao menos um compromisso. Pleore insistiu delicadamente, pousando sua mão delicadamente sobre a dela. Viu que outra lágrima brotava do seu rosto e decidiu ele mesmo passar o lenço sobre ela: -"Vai ficar tudo bem", dizia ele. Ela pegou o lenço de sua mão, gentilmente, e tocou seus dedos. Aceitou o convite.

Passaram diversas horas agradáveis juntas e divertidas. Falaram de suas vidas e Pleore adorava ouvir suas histórias. Achava-as fascinantes, analisava pontos em comuns entre elas e notava certos comportamentos repetidos. Quando se deu conta disso, soltou um sorriso largo, fazendo a Lógica parar. Pegou em sua mão e decidiu que queria seguir a figura de sua mãe, repetindo as coisas de maneiras diferentes. Agradeceu-a profundamente.

Naquele momento tinha acontecido outra pausa constrangedora. Pareceu que o Tempo parou, o ponteiro do segundo do relógio dela tinha congelado. Para o Infinito, somente havia aquela pequena mesa, naquela pequena cantina italiana. Seus rostos foram se aproximando, bailando no ar de maneira nervosa e apaixonada. Seus lábios trocaram, havendo uma profusão de proposições e repetições. Proposições amorosamente verdadeiras e repetições romântica de vários atos, muitas vezes, buscando apenas o prazer.

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